NÃO-COISA
O que o poeta quer dizer
no discurso não cabe
e se diz é pra saber
o que ainda não sabe.
Uma fruta uma flor
um odor que relume...
Como dizer o sabor,
seu clarão seu perfume?
Como enfim traduzir
na lógica do ouvido
o que na coisa é coisa
e que não tem sentido?
A linguagem dispõe
de conceitos, de nomes
mas o gosto da fruta
só o sabes se a comes
só o sabes no corpo
o sabor que assimilas
e que na boca é festa
de saliva e papilas
invadindo-te inteiro
tal dum mar o marulho
e que a fala submerge
e reduz a um barulho,
um tumulto de vozes
de gozos, de espasmos,
vertiginoso e pleno
como são os orgamos.
No entanto, o poeta
desafia o impossivel
e tenta no poema
dizer o indizivel:
subverte a sintaxe
implode a fala, ousa
incluir na linguagem
densidade de coisa
sem permitir, porém,
que perca a transparência
já que a coisa é fechada
à humana consciência.
O que o poeta faz
mais do que mencioná-la
é torná-la aparência
pura- e iluminá-la.
Toda coisa tem peso:
uma noite em seu centro.
O poema é uma coisa
que não tem nada dentro,
a não ser o ressoar
de uma imprecisa voz
que não quer se apagar
- essa voz somos nós.
Ferreira Gullar - Poemas Recentes
quinta-feira, novembro 27
quarta-feira, novembro 26
leminskai - leminsk com hai kai
'essa vida é uma viagem
pena eu estar
só de passagem '
'confira
tudo que respira
conspira '
'passa e volta
a cada gole
uma revolta '
'verde a árvore caída
vira amarelo
a última vez na vida '
'meiodia três cores
eu disse vento
e caíram todas as flores '
'olha o link
para outros hai kais
de leminsk '
http://www.kakinet.com/caqui/leminsha.htm
pena eu estar
só de passagem '
'confira
tudo que respira
conspira '
'passa e volta
a cada gole
uma revolta '
'verde a árvore caída
vira amarelo
a última vez na vida '
'meiodia três cores
eu disse vento
e caíram todas as flores '
'olha o link
para outros hai kais
de leminsk '
http://www.kakinet.com/caqui/leminsha.htm
sábado, agosto 23
paradeiro
Haverá paradeiro
Para o nosso desejo
Dentro ou fora de um vício?
Uns preferem dinheiro
Outros querem um passeio
Perto do precipício.
Haverá paraíso
sem perder o juízo e sem morrer?
Haverá pára-raio
Para o nosso desmaio
No momento preciso?
Uns vão de pára-quedas
Outros juntam moedas
antes do prejuízo
Num momento propício
Haverá paradeiro para isso?
Haverá paradeiro
Para o nosso desejo
Dentro ou fora de nós?
(arnaldo antunes)
Para o nosso desejo
Dentro ou fora de um vício?
Uns preferem dinheiro
Outros querem um passeio
Perto do precipício.
Haverá paraíso
sem perder o juízo e sem morrer?
Haverá pára-raio
Para o nosso desmaio
No momento preciso?
Uns vão de pára-quedas
Outros juntam moedas
antes do prejuízo
Num momento propício
Haverá paradeiro para isso?
Haverá paradeiro
Para o nosso desejo
Dentro ou fora de nós?
(arnaldo antunes)
domingo, julho 13
enchantagem
de tanto não fazer nada
acabo de ser culpado de tudo
esperanças, cheguei
tarde demais como uma lágrima
de tanto fazer tudo
parecer perfeito
você pode ficar louco
ou para todos os efeitos
suspeito
de ser verbo sem sujeito
pense um pouco
beba bastante
depois me conte direito
que aconteça o contrário
custe o que custar
deseja
quem quer que seja
tem calendário de tristezas
celebrar
tanto evitar o inevitável
in vino veritas
me parece
verdade
o pau na vida
o vinagre
vinho suave
pense e te pareça
senão eu te invento por toda a eternidade
P. Leminsk
de tanto não fazer nada
acabo de ser culpado de tudo
esperanças, cheguei
tarde demais como uma lágrima
de tanto fazer tudo
parecer perfeito
você pode ficar louco
ou para todos os efeitos
suspeito
de ser verbo sem sujeito
pense um pouco
beba bastante
depois me conte direito
que aconteça o contrário
custe o que custar
deseja
quem quer que seja
tem calendário de tristezas
celebrar
tanto evitar o inevitável
in vino veritas
me parece
verdade
o pau na vida
o vinagre
vinho suave
pense e te pareça
senão eu te invento por toda a eternidade
P. Leminsk
sexta-feira, julho 4
Poderes
Talvez o amor restitui um cristal quebrantado no fundo
do ser, um sal espargido e perdido
e aparece entre sangue e silêncio como a criatura
o poder que não impera senão dentro do gozo e da alma
e nesse equilíbrio poderia fundar uma abelha
ou encerrar as conquistas de todos os tempos em uma papoula
porque assim de infinito é não amar e esperar à beira de um rio redondo
e assim são transmutados os vínculos no mínimo reino recém-descoberto.
Pablo Neruda
do ser, um sal espargido e perdido
e aparece entre sangue e silêncio como a criatura
o poder que não impera senão dentro do gozo e da alma
e nesse equilíbrio poderia fundar uma abelha
ou encerrar as conquistas de todos os tempos em uma papoula
porque assim de infinito é não amar e esperar à beira de um rio redondo
e assim são transmutados os vínculos no mínimo reino recém-descoberto.
Pablo Neruda
segunda-feira, maio 19
domingo, abril 13
mordo a dor na nuca,
tuas íris flamejantes -
protegidas por paredões montanhosos -
me alcançam e me perdem, de novo.
mais uma vez a estrada de tijolos amarelos,
serpenteando à beira dos penhascos,
me leva à arvore proíbida
no centro de tudo:
vir só, decidir só,
naturalmente...
estranho mundo, ah!
face poliedrica de um tecido multiforme,
quero cobrir-me com teus absurdos
e adormecer à tua espera...
tuas íris flamejantes -
protegidas por paredões montanhosos -
me alcançam e me perdem, de novo.
mais uma vez a estrada de tijolos amarelos,
serpenteando à beira dos penhascos,
me leva à arvore proíbida
no centro de tudo:
vir só, decidir só,
naturalmente...
estranho mundo, ah!
face poliedrica de um tecido multiforme,
quero cobrir-me com teus absurdos
e adormecer à tua espera...
segunda-feira, março 31
quarta-feira, fevereiro 27
Subúrbios
Celebro as virtudes e os vicios
de pequenos burgueses suburbanos
que ultrapassam o refrigerador
e colocam guardas sóis de cor
junto ao jardim que anela uma piscina:
este ideal ao luxo soberano
para meu irmão pequeno burguês
que és tu e que sou eu, vamos dizendo
a verdade verdadeira neste mundo.
A verdade daquele sonho a curto prazo
sem escritório no sábado, por fim,
os desapiedados chefes insolúveis
onde sempre nasceram os verdugos
que acham e se multiplicam sempre.
Nós, heróis e pobres diabos,
fracos, fanfarões, inconclusos,
e capazes de todo o impossível
sempre que não se veja e não se ouça,
dom juans e doms-juanas passageiros
na fugacidade de um corredor
ou de um tímido hotel de passageiros.
Nós, com pequenas vaidades
e resistidas ganas de subir,
de chegar onde todos têm chegado
porque assim nos parece que é o mundo:
uma pista infinita de campeões
e em um lugar nós, esquecidos
por culpa de talvez todos os outros
porque eram tão parecidos conosco
até que roubaram seu lauréis,
suas medalhas, seus títulos, seus nomes.
Pablo Neruda
de pequenos burgueses suburbanos
que ultrapassam o refrigerador
e colocam guardas sóis de cor
junto ao jardim que anela uma piscina:
este ideal ao luxo soberano
para meu irmão pequeno burguês
que és tu e que sou eu, vamos dizendo
a verdade verdadeira neste mundo.
A verdade daquele sonho a curto prazo
sem escritório no sábado, por fim,
os desapiedados chefes insolúveis
onde sempre nasceram os verdugos
que acham e se multiplicam sempre.
Nós, heróis e pobres diabos,
fracos, fanfarões, inconclusos,
e capazes de todo o impossível
sempre que não se veja e não se ouça,
dom juans e doms-juanas passageiros
na fugacidade de um corredor
ou de um tímido hotel de passageiros.
Nós, com pequenas vaidades
e resistidas ganas de subir,
de chegar onde todos têm chegado
porque assim nos parece que é o mundo:
uma pista infinita de campeões
e em um lugar nós, esquecidos
por culpa de talvez todos os outros
porque eram tão parecidos conosco
até que roubaram seu lauréis,
suas medalhas, seus títulos, seus nomes.
Pablo Neruda
sexta-feira, fevereiro 22
Poema
Tamanha devassidão
Os dentes trincados no chão
Como uma pétala retirada
Daquela flor...
A tua amada
Mas você não tem um amor
Então segues...
Não olhai o lírio dos campos
Não procure os teus quebrantos
Siga vida senha a vida
O que sentes não é
Nada demais, porque depois ao pó
Retornarás, mas servirá pra muitas coisas
Pro charco
Pro vale
E pro urubu
Até seu olho do cú
Outro poema
Na vida tudo têm seu coringa e seu aís
Seu calado e seu cais
Seu espanto
A agonia
O farsejo que sangra o dia
Têm sempre o momento do desespero
O ato que estilhaça o peito
A verdade que destrói a mente
A loucura que desvaira a gente
E no final tudo têm um quê de ruim
E enquanto formos cristãos
Isto será nosso fim!
Tamanha devassidão
Os dentes trincados no chão
Como uma pétala retirada
Daquela flor...
A tua amada
Mas você não tem um amor
Então segues...
Não olhai o lírio dos campos
Não procure os teus quebrantos
Siga vida senha a vida
O que sentes não é
Nada demais, porque depois ao pó
Retornarás, mas servirá pra muitas coisas
Pro charco
Pro vale
E pro urubu
Até seu olho do cú
Outro poema
Na vida tudo têm seu coringa e seu aís
Seu calado e seu cais
Seu espanto
A agonia
O farsejo que sangra o dia
Têm sempre o momento do desespero
O ato que estilhaça o peito
A verdade que destrói a mente
A loucura que desvaira a gente
E no final tudo têm um quê de ruim
E enquanto formos cristãos
Isto será nosso fim!
segunda-feira, janeiro 7
duvida para martim
cara ai esta um texto seu que tah no blog
eu queria tirar umas duvidas sobre ele
que me interessou por dois motivos: nele vi pela primeira vez a idea de esquecimento do ser, e a frase final eu achei poetica e com uma fluidez retada, e entendi minutos antes de fazer esse texto. Ai vão as duvidas:
O que vem a ser o esquecimento do ser pra vc?(seria n se colocar na fluidez da existencia? N "obedecer" o inesperado?
E esse mal estar coletivo que causa esses pensamentos novos, por que causa esse mal estar?
valeu ai cara
sei que vai me responder!
trecho do trabalho sobre Heráclito: "À experiência da origem"
O pensamento, em sua morada própria, em seu fazer-se primordial, arcaico, parece ser, para a cultura dominante sempre um mal-estar. Deveras, não é nada fácil distinguir os sinais de cura e/ou adoecimento de cada febre; mas, além disto (já que hoje em dia somos tão bem-informados) a questão parece ser que se for permitido a qualquer um que pense livremente, não demorará muito a que se pronunciem "por aí" estes "tipos" de pensamentos "livres e desagradáveis", causando um mal-estar coletivo e, consequentemente, perigoso. Segundo Freud, trocamos imensas possibilidades de contentamento por muito pouca segurança. É certo que, apesar de todas as conquistas do tão festejado desenvolvimento da civilização técnico-científico-industrial, os seres humanos continuam com a mesma, e cada vez mais exacerbada, percepção de si e da natureza enquanto objetos a serem dominados... Esta é a desmesura (Hybris), que parece acompanhar e se desenvolver junto com a história do pensamento no Ocidente, a história do esquecimento do Ser. O pior dos incêndios, talvez exatamente por permanecer imperceptível a arrogância humana. É preciso obedecer, isto é, é preciso estar à escuta e à espera do inesperado - fazer a cama em suas proximidades, pré-parar todo o fluxo do pensamento para, enfim, deixar o extraordinário brilhar e presentificar-se aonde sempre já esteve: no ordinário. Afinal, como alguém poderia manter-se encoberto face ao que nunca se deita?
eu queria tirar umas duvidas sobre ele
que me interessou por dois motivos: nele vi pela primeira vez a idea de esquecimento do ser, e a frase final eu achei poetica e com uma fluidez retada, e entendi minutos antes de fazer esse texto. Ai vão as duvidas:
O que vem a ser o esquecimento do ser pra vc?(seria n se colocar na fluidez da existencia? N "obedecer" o inesperado?
E esse mal estar coletivo que causa esses pensamentos novos, por que causa esse mal estar?
valeu ai cara
sei que vai me responder!
trecho do trabalho sobre Heráclito: "À experiência da origem"
O pensamento, em sua morada própria, em seu fazer-se primordial, arcaico, parece ser, para a cultura dominante sempre um mal-estar. Deveras, não é nada fácil distinguir os sinais de cura e/ou adoecimento de cada febre; mas, além disto (já que hoje em dia somos tão bem-informados) a questão parece ser que se for permitido a qualquer um que pense livremente, não demorará muito a que se pronunciem "por aí" estes "tipos" de pensamentos "livres e desagradáveis", causando um mal-estar coletivo e, consequentemente, perigoso. Segundo Freud, trocamos imensas possibilidades de contentamento por muito pouca segurança. É certo que, apesar de todas as conquistas do tão festejado desenvolvimento da civilização técnico-científico-industrial, os seres humanos continuam com a mesma, e cada vez mais exacerbada, percepção de si e da natureza enquanto objetos a serem dominados... Esta é a desmesura (Hybris), que parece acompanhar e se desenvolver junto com a história do pensamento no Ocidente, a história do esquecimento do Ser. O pior dos incêndios, talvez exatamente por permanecer imperceptível a arrogância humana. É preciso obedecer, isto é, é preciso estar à escuta e à espera do inesperado - fazer a cama em suas proximidades, pré-parar todo o fluxo do pensamento para, enfim, deixar o extraordinário brilhar e presentificar-se aonde sempre já esteve: no ordinário. Afinal, como alguém poderia manter-se encoberto face ao que nunca se deita?
sexta-feira, janeiro 4
Arco-íris
A lua linda e seu brilho branco
Prismatiza em seu corpo negro
Que a lança em feixes de muita alegria
Em cada cor com sua sintonia
O Vermelho é Pirajá
pois um índio em ti renascerá
Azul é tua alforria
da tristeza que sangra os dias
O verde é o nobre desejo
de ter alguém a teu peito
O amarelo é a luz do sol
o inquieto sob o lençol
O lilás é a sintonia
entre a ti e a tua alegria
O rosa é a tua flor
que deste à teu amor
E o laranja é o estilhaço
de amor pra todos os lados
Prismatiza em seu corpo negro
Que a lança em feixes de muita alegria
Em cada cor com sua sintonia
O Vermelho é Pirajá
pois um índio em ti renascerá
Azul é tua alforria
da tristeza que sangra os dias
O verde é o nobre desejo
de ter alguém a teu peito
O amarelo é a luz do sol
o inquieto sob o lençol
O lilás é a sintonia
entre a ti e a tua alegria
O rosa é a tua flor
que deste à teu amor
E o laranja é o estilhaço
de amor pra todos os lados
terça-feira, dezembro 25
terça-feira, dezembro 18
Heráclito, Frag. 26
O homem toca a luz na noite, quando com visão extinta está morto para si; mas vivendo, toca o morto, quando com visão extinta dorme; na vigilia toca o adormecido.
(trad. Emmanuel Carneiro Leão)
(trad. Emmanuel Carneiro Leão)
sábado, dezembro 15
brisa
por cima
e por baixo
tem sempre um lado maior que o outro
por todos os ladbos
------rostos
para todo o sempre
---aprendizado
para cada ser
----estar
para cada momento
----situação
para cada espaço
---liberdade
para cada riso
------paz
relaxe
sinta a briiiisa que corre no ar
as vezes
os deuses ouvem nossas preces
e por baixo
tem sempre um lado maior que o outro
por todos os ladbos
------rostos
para todo o sempre
---aprendizado
para cada ser
----estar
para cada momento
----situação
para cada espaço
---liberdade
para cada riso
------paz
relaxe
sinta a briiiisa que corre no ar
as vezes
os deuses ouvem nossas preces
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